Era tarde de domingo, momento em que eu desfrutava as últimas horas de ócio do fim
de semana, quando a campainha tocou com insistência. Atendi, mas antes que eu pudesse
dizer alô! Ouvi uma voz alegre do outro lado da linha a me desejar boa
noite. Sorri, pois já havia identificado o sotaque inconfundível do Toninho, um
guarda de quarteirão que há algum tempo se tornou meu amigo de prosa. Amizade
esta que começou quando ele apareceu no portão da minha casa pela primeira vez e
se identificou como vigilante noturno da redondeza desejando-me um Feliz Natal!
Muito simpático e bom de proza discorreu sobre vários assuntos ao mesmo tempo,
desde o cotidiano de sua profissão até pormenores da vida particular e familiar.
Confesso que fiquei confuso e por alguns instantes o meu consciente divagou sobre
as pretensões daquele sujeito. A minha
reação foi a de buscar uma solução imediata para me livrar do tal imprevisto. Perguntei
o quanto eu tinha de pagar de mensalidade para ele me colocar no rol da sua
freguesia. Com um olhar acanhado e meio sem jeito respondeu: Não! O senhor não
tem que pagar nada, na realidade eu não posso atuar nesta sua rua, sou de outro
setor que começa na esquina de baixo. Eu só quero dizer que apesar de não ser
deste setor eu sempre estou de olho na sua casa, pois passo aqui em frente
varias vezes a noite. Só passei aqui mesmo para desejar um feliz natal (realmente
já era época natalina) e dizer que estou à disposição caso o senhor viaje ou
precise de algum serviço. Foi o suficiente para eu tirar a carteira do bolso e
lhe dar um agrado financeiro. Percebi que o seu semblante mudou. A partir daí,
o Toninho nunca mais me esqueceu, seja no Natal, na Páscoa ou em outros
momentos que ele acha que eu mereça sua visita. Sempre o convido a entrar para uma
água e um cafezinho, ás vezes aceita, outras agradece e recusa na justificativa
de que não pode ausentar-se do seu posto de serviço. Confesso que me surpreendi com a última
visita que ele me fez, afinal não era nenhuma data específica que
costumeiramente se torna motivo para sua visita, quando abri o portão ele
estava com uma sacolinha de plástico com alguns limões para me oferecer. Disse
que havia colhido no quintal da casa de sua mãe onde os frutos haviam produzido
em abundância, então havia se lembrado de mim. Numa dessas datas que antecedeu
o domingo de Páscoa tive a oportunidade de retribuí-lo mais uma vez com alguns
mimos em agradecimento aos relevantes serviços que, segundo ele, me presta de
forma voluntária durante o ano. Confesso que embora não o tenha visto passar em
frente a minha casa, ouço o silvo de seu apito nas quadras adjacentes com um
soado distante que desperta o meu sono.
Nenhum comentário:
Postar um comentário